sábado, 26 de maio de 2012

Exemplos lá de fora - Charity Comission UK


A Charity Comission UK é:

"The Charity Commission for England and Wales is a non-Ministerial Government Department, part of the Civil Service. The Commission is completely independent of Ministerial influence and also independent from the sector it regulates. It has a number of quasi-judicial functions where it uses powers similar to those of the High Court.

The Commission is required to report on its performance to Parliament annually. Our Governance Framework explains how we work to fulfill our vision, mission and values whilst remaining independent. It also explains what Members of the Commission do to ensure the ways they carry out their public duties are not (or do not appear to be) influenced by their private interests."

Exemplos lá de fora - Charity Intelligence Canada


A Charity Intelligence Canada é um exemplo de uma organização dedicada a informar os cidadãos do Canadá sobre as organizações filantrópicas.

A Missão da Charity Intelligence Canada é:

"Ajudar doadores a tomar decidões de doação informadas e inteligentes que podem ter o maior impacto possível pelo Canadá.
Para este fim tentamos o nosso melhor para:
Prosseguir investigação independente e análise com a melhor qualidade de que formos capazes, para melhor informar doadores.
Ouvir os doadores, compreender as esperanças e compreensões individuais de cada um e fornecer a ajuda que for necessária para ajudar na sua doação.
Respeitar sempre as organizações filantrópicas do Canadá, respeitar as suas decisões e reconhecer os desafios que enfrentam."
 É isto.

Você sabe como é gasto o dinheiro que dá a organizações com fins filantrópicos?

Em Portugal não conheço nenhum indicador público da qualidade do trabalho feito por organizações com fins filantrópicos. Sejam Instituições Particulares de Solidariedade Social ou Pessoas Colectivas de Utilidade Pública não é fácil saber quanto do dinheiro dado é gasto nos fins a que se destinam e quanto é gasto em campanhas de angariação de fundos, não é fácil saber se quem trabalha nessas instituições ganha pouco ou muito, se a instituição cumpre regras de contratação, se tem dívidas, etc.

Não é fácil saber porque em geral não se considera importante saber, não é prioridade das organizações tornar esse tipo de informação disponível e não é prioridade de quem dá saber como é gasto o seu dinheiro. Assume-se que será gasto da melhor maneira. Mas será suficiente dar dinheiro sem saber para onde vai e como é gasto?

Acredito que muito há a fazer na disponibilização de informação sobre organizações filantrópicas. Não chega acreditar na boa vontade de pessoas ou organizações porque as próprias estão muitas vezes muito embrenhadas em tentar fazer o bem mas não têm competências nem forma de avaliar se fazem cumprir a sua missão de forma competitiva, eficiente e eficaz. É necessário criar e recolher de forma consistente indicadores sobre a qualidade do trabalho destas organizações.

Como saber, por exemplo, se dar 10€ à instituição A ajuda mais pessoas do que a instituição B? Se a instituição C usa 85% dos seus fundos directamente a ajudar, enquanto a D apenas usa 40%, não é melhor dar dinheiro à C?

Confesso que isto é para mim uma questão pessoal. Contribuo muito menos do que devia porque não sei a quem dar. Não sei em quem confiar. Não acredito que chegue dizer que o dinheiro vai ajudar pessoas, ou animais ou o ambiente. Eu quero saber a eficiência da organização a quem dou o meu dinheiro no uso do mesmo. Quero saber se os directores são remunerados e quanto. Quero saber se quem é contratado para trabalhar pela organização conseguiu o lugar por conhecer os sócios ou directores ou foi contratado de forma independente. Quero saber o ADN da organização, os princípios que a guiam. Mas sei que o que é importante para mim não é o que é importante para outros. O que eu quero é que a informação seja recolhida e disponibilizada para qualquer pessoa poder tomar uma decisão informada, se assim entender.

De vez em quando, à entrada do Metro de Lisboa, em feiras, aparece um pequeno stand de organizações que dizem trabalhar para prevenir o cancro, ou ajudar crianças em risco, mas sobre as quais não sei absolutamente nada. NADA. Nem tenho forma de saber em tempo útil. E isto é uma lacuna grave, um enorme vazio de informação que tem de ser preenchido.

Noutros países surgiram nos últimos anos iniciativas que tentam responder a estas questões e a própria lei obriga a auditorias públicas (mesmo se o resultado das mesmas não é obrigatoriamente tornado público). Estas iniciativas estão a ajudar a tornar mais transparente e eficiente o sector filantrópico desses países.

Em Portugal, tanto quanto sei, isso ainda não se faz, e desconfio que muitas organizações são muito menos eficientes do que se pensa ou do que pensam. Outras gastarão uma percentagem exagerada do dinheiro que recebem em campanhas para angariar mais fundos ou pagarão aos seus directores executivos somas excessivas face ao cariz filantrópico das organizações que gerem.

Não é meu objectivo dizer a ninguém onde gastar o dinheiro. Mas ambiciono que se inicie uma campanha que crie uma entidade independente que audite as organizações filantrópicas e disponibilise esses resultados para que as pessoas possam escolher de forma informada a quem dar o seu dinheiro, ao mesmo tempo incentivando as organizações a tornarem-se cada vez mais eficientes e eficazes no uso desses fundos.